terça-feira, fevereiro 19, 2008

Biduga

A gravidez anunciada,
Trouxe em sua notícia,
Alegria aos familiares,
Sorriso no rosto das tias...

Muito antes de se saber o sexo,
Nomeado já estava:
seria chamado Biduga,
Ou, pelo menos, assim seu irmão o chamava...

Biduga foi crescendo,
Um milímetro de cada vez...
E a maquininha moderna,
Muitas contas ela fez...

Ocorreu que no terceiro mês,
A maquininha apitou...
E algo de estranho
Em Biduga ela apontou...

A notícia era triste
E com palavras difíceis...
O relatório friamente dizia
Que o que Biduga tinha
Era “Incompatível com a vida”...

Sem a proteção craniana
Com seu pequenino cérebro comprometido
Biduga viria à vida
E em segundos seria perdido...

A aflição tomou conta de todos,
Mãe, Pai, Avô, Avó...
E o sorriso do rosto das tias,
Em lágrimas se transformou...

Quem era amigo e aguentava,
Aos familiares visitava...
Não havia muito que dizer
Mas havia muito a confortar.

Eram muitos corações unidos,
Em fé e com muita oração...
A decisão não era simples
E o sofrimento viria
Independente da solução...

Seu irmão, apesar de pequeno
Sentiu a tristeza na casa
E, silencioso, de maneira impressionante,
Cada passo acompanhava...

Não foi uma decisão fácil,
Não havia como ser...
E após um mês de muito sofrimento
Biduga deixou de crescer...

Em sua curta existência,
Biduga nos transformou...
Como um rápido cometa,
Por todos nós passou...

Não há quem seja o mesmo
Não há quem pense como antes
Não há quem não pense mais...

Biduga nos ensinou a pensar
Que cada um é um inteiro, um ser diferente
E que cada dor dói
Diferente em cada um que a sente...

Mas, definitivamente,
O maior ensinamento
É que o julgar deve dar lugar
Ao que o amor faz muito bem:
Compreender, acolher, AMAR...
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Há tempos tenho tentado relatar este acontecido
Mas a dor era tão forte que as palavras tinham fugido...
(Escrito por uma das tias da pequena Biduga, em solidariedade a todos os que viveram uma história como esta, em especial, a mãe que tanto sofreu, tanto amou, tanto chorou...
Te amo, amiga... )