terça-feira, agosto 15, 2006

Romaria

Em homenagem ao dia de hoje, onde milhares de fiéis caminham em direção a Romaria, um texto muito bonito escrito por um colega de trabalho que acabou de refazer o trajeto...
Obrigada, Badu.
=============================

GRACIAS
(A caminho de Romaria)

Amanhã vou caminhar para Romaria como tenho feito há anos.
Tradicionalmente me fazem um rotineiro rosário de perguntas às vezes descabidas “é promessa? é auto-flagelo? você é masoquista? você vai só por farra, não é?”. Hoje aproveitando uma repentina crise de bom humor, resolvo responder.

Desde cedo aprendi a ser grato.
Aprendi a reconhecer a beleza nas coisas simples, e sem demagogia tenho uma grande simpatia pela humildade nas ações e processos.
Caminho porque gosto.
Caminho porque posso.
Caminho para prestar uma homenagem a mim mesmo, para superar minha preguiça, para vencer o desafio do cansaço, da distância.

A caminhada para mim é o desfecho de um trabalho consciente, na busca da capacitação física, construído lentamente nas madrugadas do Parque do Sabiá ou na esteira da academia.

Caminho principalmente para homenagear os que não podem fazê-lo. E são tantos! Quantos hoje não estão presos a soros, sondas, tubos, próteses, arrastando esta alegoria macabra pelos frios corredores dos hospitais?

Existem poucas coisas tão belas como as coisas simples. A vida me possibilitou conhecer hotéis de luxo, com todo conforto do qual se pode desfrutar, mas raramente durmo tão bem do que quando literalmente desabo em um canto do longo caminho, tendo a simples palha de arroz como colchão e as estrelas como teto.

Caminho porque amo andar e me comovo com a simplicidade dos que o fazem somente pela fé. Aquela fé dos que nada tem,
Aquela fé dos humildes e excluídos que cansados e famintos buscam nos Santos o seu refúgio.

Poucas imagens são tão pungentes quanto as que se podem ver neste caminho, como aqueles que além de sua cruz diária, ainda arrastam outras de madeira em ombros magros e curvados, buscando na oração o bálsamo para as feridas do corpo e da alma.

Enfim posso dizer que encontro no caminhar uma maneira de agradecer por tudo o que a vida me tem dado.

Ou como ensinava Violeta Parra:
“Gracias a la vida, que me ha dado tanto!”

Jose Eduardo Costa (Badu) 07/08/2003